Saúde mental brasileira, segundo pesquisas, há um crescimento nos atendimentos, o que gera diversos impactos e preocupação da sociedade com o tema
O pós-pandemia, aliado a fatores como o uso desenfreado de redes sociais, economia, solidão, estresse e violência, deflagrou uma crise de saúde mental de maneira global. Portanto, casos de depressão, ansiedade e síndrome de Burnout têm crescido cada vez mais. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente um bilhão de pessoas no mundo – uma em cada oito – apresentam pelo menos um problema relacionado à saúde mental.
Além disso, uma pesquisa do Instituto Ipsos revela que 52% dos brasileiros estão preocupados com a saúde mental, sendo a principal preocupação de saúde entre os entrevistados. Segundo a técnica de estratégia da saúde da família no SUS, Nathalia Belletato, os números apresentados na pesquisa são alarmantes.
Saúde mental brasileira
Os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, além do impacto que as doenças geram na expectativa de vida: pessoas com condições graves de saúde mental vão a óbito em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, especialmente devido a doenças físicas evitáveis.
Saúde mental brasileira
Contudo, conforme levantamento da consultoria Alvarez & Marsal, há um crescimento anual de 12% a 15% nos últimos quatro anos em atendimentos da saúde mental brasileira. Além disso, o país tem o 3º pior índice de saúde mental do mundo, conforme dados do relatório global anual “Estado Mental do Mundo 2022”. No primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, houve um aumento de 37% na aquisição de antidepressivos, segundo mapeamento da Vidalink em 250 empresas.
Impactos dos transtornos mentais na sociedade
Para Walter Ferreira de Oliveira, professor titular do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), líder do Grupo de Pesquisas em Políticas de Saúde / Saúde Mental (GPPS) e fundador da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), o custo dos transtornos mentais pode ser sentido em várias esferas: sociais, biológicos, financeiros e emocionais. Seus impactos podem ser observados, por exemplo:
Economia: os transtornos podem depreciar a produtividade e o desempenho no trabalho e gerar custos crescentes nos sistemas de saúde e na assistência social;
Sociedade: afetam relacionamentos interpessoais, impactam na inclusão social e podem resultar em discriminação, isolamento e violação dos direitos humanos. E ainda contribuem para um aumento nos índices de violência, abuso e suicídio (estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard, aponta que a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022).
Individualidade: os transtornos mentais contribuem para reduzir a qualidade de vida de uma pessoa, afetando sua autoestima e confiança, e aumentando o risco de doenças físicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e infecções.
Dados da Conexa Saúde
O Relatório de Dados de Saúde Mental de 2022, elaborado pela Conexa Saúde, em parceria com a Eurofarma, indica aceleração do adoecimento da população do país. Os dados foram retirados da plataforma Psicologia Viva, uma das marcas da Conexa, entre julho de 2021 a junho de 2022. Em julho de 2021, havia pouco mais de 140 mil novos registros de usuários. Em junho de 2022, esse número saltou para mais de 184 mil.
Impactos no trabalho
Além dos impactos no sistema de saúde, é preciso destacar ainda o potencial prejuízo dos transtornos mentais no ambiente de trabalho, com fortes impactos na economia.
A perda de produtividade como resultado de dois dos transtornos mentais mais comuns, ansiedade e depressão, custa à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano. Em 2030, esse valor deve estar próximo a US$ 6 trilhões, segundo artigo publicado na revista The Lancet sobre saúde mental.
Segundo uma pesquisa global realizada pela Sodexo com 5.595 profissionais que atuam em empresas de diferentes setores, em seis países, o nível de bem-estar mental é médio ou ruim para 27% dos colaboradores, sendo o trabalho apontado como o principal motivo (80% dos casos) diretamente ligado ao estresse (39%). Quando a saúde física é ruim (10%), o trabalho também é a causa (75% dos casos) devido à falta de tempo para se exercitar (42%) e preparar alimentos saudáveis (21%).
A relevância do tema tem feito com que os profissionais cogitem uma mudança de emprego para conseguirem um ambiente de trabalho mais saudável. Segundo uma pesquisa realizada com 500 profissionais brasileiros pela plataforma Onlinecurriculo para entender a relação dos trabalhadores entre o espaço de trabalho e sua saúde mental, 56% dos profissionais disseram não pretender permanecer em ambientes de trabalho que não sejam saudáveis; 4% cogitariam permanecer no emprego pelo bom salário.
O que pode ser feito?
Por fim, segundo Walter, as ações que vêm sendo tomadas para tratar o tema não são suficientes. “Na verdade, são mínimas, embora seja importante destacar que, no campo da saúde mental, temos visto avanços.” Em 2022, por exemplo, o Governo Federal lançou iniciativas e estratégias – que fazem parte da Política Nacional de Saúde Mental – para expandir as ações e cuidar da saúde mental dos brasileiros pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as ações estão a Linha Vida (196), teleconsultas para o enfrentamento dos impactos causados pela pandemia da Covid-19 e as Linhas de Cuidado para organizar o atendimento de pacientes com ansiedade e depressão.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-ansiosa-sentada-na-vista-lateral-do-sofa_27830418.htm#fromView=search&page=1&position=30&uuid=75f6c7db-a2e7-4a9f-8dea-3d589e43852e